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Artistas de Passos-MG
Wagner de Castro
Nasceu em 27 de Julho de 1927 em Franca-SP. Iniciou sua experiência pictórica aos 11 anos. Aos 20 anos teve um contato de 2 meses com a Escola de Belas Artes de São Paulo, como ouvinte livre. Inconformado com os processos acadêmicos, retirou-se da escola e seguiu carreira autodidata com suas experiências.
Em fins de 1939 transferiu-se de São Paulo para Passos-MG. Em contato com a atmosfera da cidade, modifica o tratamento das cores, substituindo o cinzento da fase paulistana por cores claras e luminosas.
Artista espírita transcende religião e cria obra perturbadora
Pintor Wagner de Castro, de 93 anos, lança livro com seu acervo e fala sobre sua vida e obra
Régis Martins
No ano em que o artista plástico Wagner de Castro nasceu, a Revolução Bolchevique derrubava o governo czarista da Rússia, a Primeira Guerra Mundial assombrava o mundo e São Paulo era cenário de uma greve que marcaria a história das lutas sociais no Brasil.
Passados 94 anos, que Wagner completa em julho, o artista francano, desconhecido para grande parte do público, finalmente lançou um livro que reúne 60 obras de seu acervo.
O projeto contou com a ajuda de amigos e admiradores que decidiram se unir para homenageá-lo. A ideia, que se concretizou por meio de lei de incentivo, foi da amiga Lubélia Alves Pereira, e a edição fotográfica e gráfica do livro, realizada por Sylvio Coutinho, de Belo Horizonte.
Mas o que esse simpático professor, que dá aulas de desenho até hoje, tem de tão especial? Radicado na cidade mineira de Passos há 70 anos, quando deixou São Paulo, Wagner desenvolveu um estilo peculiar.
Dono de um traço clássico, quase renascentista, suas obras não se enquadram em nenhuma escola específica.
Primeiro porque é um autodidata e segundo porque arte, para ele, não se limita a questões estéticas.
"Minha arte pode ser vista sob diversos aspectos porque é uma síntese. Cada um enxerga de acordo com os seus óculos", filosofa.
Religião
O livro "Ensaio para uma pintura espírita", lançado na última sexta-feira, em Ribeirão Preto, privilegia as telas relacionadas à temática kardecista, porém, limitar a obra de Wagner a sua formação religiosa é um erro.
"No livro, existe essa conotação espírita, mas meus quadros têm um caráter universalista", explica.
Nas telas, o misticismo não existe para confortar os leigos. Aqui, seres celestiais se unem a criaturas monstruosas num cenário onírico que lembra muito as telas de gênios como Hyeronimous Bosch e Brueghel.
"Uns chamam de surrealismo, outros de hiperrealismo. Na verdade, nunca me preocupei com isso", explica.
Wagner divide seu trabalho em duas fases: a pintura paulistana e a pacienciosa. A primeira é uma referência ao período em que viveu em São Paulo, onde frequentou por dois meses a Escola de Belas Artes como ouvinte, quando tinha 20 anos. Lá, diz que não aprendeu nada e resolveu seguir a carreira autodidata.
"Nessa época, minhas telas eram bem cinzentas, por causa da cidade grande, mas também fazia muitos retratos para sobreviver. Tudo isso se perdeu", comenta.
Porém, quando foi a Passos para visitar os avós no final da década de 1930, sua vida, e sua arte, consequentemente, mudaram. A
atmosfera da cidade modificou o tratamento que Wagner dava às cores.
"Era um lugar pacato, onde encontrei muita poesia. A partir daí, comecei a produzir uma obra bem diferente, mais colorida", afirma.
Em terreno mineiro, o paulista começou também a investir na introspecção, com assuntos filosóficos e metafísicos.
"Voltei para dentro de mim mesmo e encontrei uma nova forma de arte", ressalta.